14 de fevereiro de 2011

A consciência venceu o comodismo

Escrevo hoje para compartilhar a alegria de ter conseguido uma vaga para minha filha em uma instituição de educação infantil próxima à minha casa. Conveniada com a prefeitura, o CEI (Centro de Educação Infantil) recebe a verba, os materiais, a alimentação e os produtos de higiene da prefeitura, mas toda a gestão e coordenação pedagógica são realizadas por uma ONG.

Fiquei muito feliz com o profissionalismo, o cuidado e a segurança que a coordenadora pedagógica me transmitiu. Pude ler o projeto político pedagógico da escola e o que mais me chamou a atenção foi ver a palavra PRAZER destacada em letras maiúsculas, em meio ao texto que detalha a concepção de criança, de mundo e de aprendizagem na visão da instituição.

Observei que, no projeto, consta um diagnóstico da região, da comunidade local, dos bens públicos que apoiar no processo educativo das crianças (biblioteca, parques, brinquedoteca) e também uma descrição detalhada dos projetos periódicos que a escola promove com os alunos e a comunidade escolar.

O projeto também destaca os desafios da comunidade, como por exemplo o alto índice de imigrantes bolivianos e peruanos que moram na nossa região, vivem em condições bem precárias e pouco falam nosso idioma, por isso quase não participam das decisões da escola.

Além da alegria de ver minha filha super entrosada com todos e desenvolvendo sua autonomia (ela voltou contando que hoje fez tudo sozinha - almoçou, foi ao banheiro, organizou a mochila), fiquei orgulhosa de ver de perto um serviço funcionando de forma primorosa em nosso país. É muito bom que minha filha possa ser testemunha de que sim, é possível obter educação pública de qualidade. Só assim, no futuro, ela poderá lutar para que isso se amplie cada vez mais.

2 de fevereiro de 2011

Ser cidadão: entre a consciência e o comodismo

Ultimamente estou intrigada com o significado do meu papel como cidadã. Há alguns dias, estive em um fórum de cidadania promovido pelo Santander e lá conversamos com Jorge Maranhão (A Voz do Cidadão) sobre o que é ser cidadão.

Antes de entender o que é, ficou mais fácil entender o que não é.

Cidadão não é aquele que pratica a filantropia, a doação, o trabalho voluntário. Isso é solidariedade e é muito importante, mas não é cidadania.

Cidadão também não é aquele que pratica ações com ética, devolve o troco e declara seu imposto corretamente. Isso é honestidade, também é essencial, mas não é cidadania.

Tampouco é votar corretamente ou respeitar a faixa de pedestres. Isso é exercer direitos e deveres. Mas ser cidadão não se resume a isso.

Ser cidadão, segundo Maranhão, é exercer controle social sobre as instituições públicas. É utilizar o serviço público e exigir a qualidade deste serviço. É participar das decisões, posicionando-se sobre elas e pressionando para garantir que as promessas sejam cumpridas. Ou seja, não basta votar no candidato que se acredita e achar que já fez a sua parte. Há que se cobrar do poder público que aja de acordo com o que se propôs. Não basta respeitar o farol vermelho. Há que se comunicar as autoridades quando encontrar um farol com defeito.

A partir desta ampliação de olhar, pergunto: como podemos exercer plenamente a cidadania? Será que, quando trocamos a escola, o hospital e o transporte públicos pela opção privada, mais cara porém mais fácil e de melhor qualidade, estamos sendo responsáveis como cidadãos? Só porque podemos pagar deveríamos abrir mão de nossos direitos? E pior, deixar o serviço público nas mãos de quem carece de conhecimento para exigir um serviço melhor?

Penso que não. Acredito que assim estamos nos omitindo, negando nossos direitos. Facilitamos nossa vida hoje, mas contribuimos para a crescente deterioração do serviço público no longo prazo. Por isso resolvi colocar minha filha na Escola Pública. Quero usar o serviço e cobrar sua qualidade. Quero participar da vida real da minha comunidade. Não quero dar as costas a meus direitos e deveres de cidadã.

Confesso que não está sendo fácil. Desde agosto do ano passado, tento sem sucesso uma vaga na EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) mais próxima da minha casa. Ora o prefeito muda a regra, ora recebo oferta de uma vaga em outra escola mais longe e mais precária. Várias vezes pensei em desistir, voltar atrás, esquecer de vez essa história, ir à escola particular mais próxima e garantir que minha filha comece amanhã a estudar. Fico no dilema entre minha consciência e meu comodismo.

Alguns me dizem: sua filha precisa da escola, pare com essa teimosia e faça o que é melhor pra ela. Pois é exatamente isso que me dá mais força para prosseguir tentando. O imenso amor que sinto por ela. Se desejo um futuro diferente para minha filha, se tenho esperança de que ela usufrua de um serviço público melhor amanhã, tenho que dar meu melhor exemplo. Tenho que ser uma verdadeira cidadã, hoje.